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Relato uP2

Dear Families,

Nas duas últimas semanas falamos sobre dois temas que as crianças adoraram: bus e train. Dois veículos bastante conhecidos, no Brasil usamos muito o ônibus, para viajar, trabalhar, passear, o trem é pouco utilizado em nosso país, embora tenhamos uma extensa rede ferroviária. Trabalhamos um livro muito interessante escrito e ilustrado por Marianne Dubuc e publicado no Brasil pela Editora Jujuba com tradução de Maria Viana. O livro, original do frânces (L’autobus), teve tradução para várias línguas, dentre elas, holandês (Met de Bus), inglês (The Bus Ride) e português (Ônibus) e recebeu o Prix Des Libraires du Quebec, importante prêmio do mundo do livro no Canadá.

O livro é um deslocamento, desde a capa embarcamos na aventura de uma menina que passeia sozinha pela primeira vez em um ônibus. No caminho conhece muitos animais, fica amiga de um lobinho muito simpático e ainda precisa contar quantas paradas faltam para chegar na casa de sua avó. Se formos muito atentos durante a leitura perceberemos que o livro nos traz um jogo de intertextualidade - a história da Chapéuzinho Vermelho se faz presente - e, algumas crianças no decorrer de várias leituras perceberam essa similaridade. Além de muitos detalhes que prendem a atenção a cada virada de página, a menina de vermelho carrega um item que foi muito valioso para as crianças: os biscoitos de manteiga. Toda vez que os biscoitos apareciam as crianças comentavam com apreciação, logo decidimos que seria interessante recriar esse passeio com uma cooking class. Fizemos então os famosos biscoitos amanteigados com açúcar, farinha e manteiga. De fato, foi um “passeio” divertido pelo mundo da culinária.

A narrativa também traz um mistério, uma caixa cuidadosamente posta no meio do ônibus, essa caixa foi sensação durante as leituras em sala de aula, as crianças imaginavam as mais diversas coisas (uma vez que no decorrer da narrativa não sabemos o que existe nessa caixa, fica tudo a critério da imaginação dos pequenos e, por que não, também da nossa?). Para o Bernardo dentro da tinha macarrão, para o Felipe um cavalo, para o Rodrigo um dinossauro, para o Bento muitos chocolates, para Rafael um cachorro, para Naomi uma aranha, e por esse caminhos percorremos o mundo mágico, não-sensível, não palpável a qual pertence à criança. Soa como poesia, não?

A criança imersa no raciocínio contínuo tem o dom de ver e produzir semelhanças. Sendo assim, ela vive no mágico fluindo no magnetismo e na hipnose que o instante da brincadeira oferece ao sujeito. Esse pensar, aqui, ecoa com o que Walter Benjamin (teórico alemão) postula: “Ninguém é mais sóbrio com relação aos materiais que a criança: um simples fragmento de madeira, uma pinha ou uma pedra reúnem na solidez e na simplicidade de sua matéria toda uma plenitude das figuras mais diversas” (BENJAMIN, 2012, p. 265). A criança rompe com esses limites do físico quando, dentro de uma caixa de papelão, cria todo um universo seu, particular, vivendo de maneira constante nessa expansão mágica chamada brincadeira. Neste processo de criação, a criança constitui um repertório, adquire conhecimento e linguagem. O adulto vê uma caixa de papelão, a criança vê muito mais: ela vê infinitas possibilidades de nomear o mundo. Nas palavras de Benjamin (2009, p. 82):

Não há dúvida de que brincar sempre significa libertação. Rodeadas por um mundo de gigantes, as crianças criam para si, brincando o pequeno mundo próprio; mas o adulto, que se vê acossado por uma realidade ameaçadora, sem perspectivas de solução, liberta-se dos horrores do real mediante a sua reprodução miniaturizada.

Assim foi essa atividade, uma porta aberta de infinitas possibilidades, assim é todos os dias. O mesmo construiu-se quando falamos sobre o trem e trabalhamos um conhecido poema escrito por Manuel Bandeira. “Trem de ferro” (1936) foi publicado em Estrela da Manhã. Em épocas diferentes Antônio Carlos Jobim e Villa-Lobos também musicaram o poema. A musicalidade do livro registra as cenas que passam pela janela do trem enquanto se desloca pelas cidades. Junto com a teacher Angela, de Cultura Brasileira, conversamos sobre o poema e seu escritor. O poema foi trabalhado de forma transversal, dessa maneira pudemos atravessar as duas línguas (inglês/português) na composição das atividades. Uma atividade de observação foi feita, com a supervisão do nosso querido Cláudio as crianças puderam sentar na frente da escola para observar o que viam passar pela rua (carros, pessoas, bicicletas, animais). O registro também foi feito com pinturas baseadas nas ilustrações do livro. ~* Café com pão/ Café com pão/ Café com pão/ Virge Maria que foi isso maquinista? / Oô…? Foge bicho/ Foge, povo. O livro foi publicado em 2013 pela Editora Globo e tem ilustrações do premiado Gian Calvi (italiano radicado no Brasil desde 1949).


Demos muitos passos importantes em duas semanas, e muitos estão por vir!


See you soon!

Teachers Carol, Helen and Simone.




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